Artigo sobre a Investigação de alta resolução de áreas contaminadas
em ,

Métodos de investigação de alta resolução: uma evolução?

Métodos de investigação de alta resolução : uma evolução?

A DD038 da CETESB (o órgão ambiental do Estado de São Paulo) de fevereiro de 2017 trouxe novos elementos para o gerenciamento de áreas contaminadas. Dentre eles, a recomendação da utilização de métodos de investigação de alta resolução em áreas com “complicações associadas” ao meio físico e à distribuição dos parâmetros químicos de interesse. Na minha opinião, as técnicas de alta resolução não devem ficar restritas às áreas complicadas.

Em minha longa atuação na área ambiental, testemunhei a evolução que os métodos de alta resolução provocaram nas etapas de investigação de sites contaminados e nas demais etapas do gerenciamento de áreas contaminadas. Para ilustrar esta evolução, apresento dois trabalhos que considero essenciais: ADAMSON & CHAPMAN (2013) e SUTHERSAN et al. (2015). A DD038 da CETESB (o órgão ambiental do Estado de São Paulo) de fevereiro de 2017 trouxe novos elementos para o gerenciamento de áreas contaminadas, dentre eles a recomendação da utilização de métodos de investigação de alta resolução em áreas com “complicações associadas” ao meio físico e à distribuição dos parâmetros químicos de interesse. Na minha opinião, as técnicas de alta resolução não devem ficar restritas às áreas complicadas.

Em minha longa atuação na área ambiental, testemunhei a evolução que os métodos de alta resolução provocaram nas etapas de investigação de sites contaminados e nas demais etapas do gerenciamento de áreas contaminadas. Para ilustrar esta evolução, apresento dois trabalhos que considero essenciais: ADAMSON & CHAPMAN (2013) e SUTHERSAN et al. (2015). Em seu trabalho sobre a caracterização de zonas de baixa condutividade (low k zones), ADAMSON & CHAPMAN (2013) apresentam o contraste entre a investigação de primeira geração, 1G, e a investigação de segunda geração, 2G, na caracterização de low k zones. Para ADAMSON & CHAPMAN (2013), a investigação 1G se baseia em modelo conceitual genérico com fontes de contaminantes na zona vadosa e/ou sobrenadante no freático e/ou na base do aquífero. Para atender a este modelo, a investigação 1G utiliza como técnicas a amostragem esparsa no solo não saturado e a amostragem da água subterrânea em poços de monitoramento convencionais, focando as zonas transmissivas do aquífero (veja meus comentários adicionais sobre o uso de poços de monitoramento em investigações no meu artigo: Poços de monitoramento são só para monitorar). Em contraste, a investigação 2G busca a caracterização em alta definição de todas as fases de contaminantes, seja em zonas transmissivas como em zonas low k. Por isso, a investigação 2G vale-se de ferramentas de alta resolução como, por exemplo a amostragem em múltiplos níveis incluindo o solo saturado, vertical aquifer profile, membrane interface probe (MIP), hydraulic profile tool e outras que permitem mais detalhes e robustez dos resultados.

SUTHERSAN et al. (2015) abordam o aspecto econômico da aplicação das técnicas de investigação de alta resolução. Dando um sentido particular a sigla ROI: return of investigation (retorno da investigação), Suthersan et al. (2015) ressaltam que a aplicação de técnicas de alta resolução (equivalentes as 2G de ADAMSON & CHAPMAN 2013) traz maior retorno para o projeto de gerenciamento de áreas contaminadas em comparação com as técnicas convencionais, pois, técnicas de alta resolução não só permitem uma maior resolução da hidroestratigrafia e da distribuição de contaminantes, como possibilitam também uma redução significativa ou mesmo drástica do tempo da investigação, viabilizando até mesmo investigações completadas em dias, quando estas técnicas são aplicadas de forma integrada e avaliadas em tempo real.

As abordagens apresentadas por ADAMSON & CHAPMAN (2013) e SUTHERSAN et al. (2015) demonstram a importância e as vantagens técnicas e econômicas da aplicação das técnicas de alta resolução nas etapas de investigação de sites contaminados. A suposição que a investigação 2G é mais cara não se sustenta, pois, como mostra SUTHERSAN et al. (2015) as investigações 2G entregam um ROI (returno of investiment) superior ao da investigação 1G (ou você acha barato monitorar uma centena de poços duas vezes por ano por 10 anos?). Minha sugestão é que você abandone o paradigma do modelo conceitual convencional e não espere por complicações para aplicar técnicas 2G.

A investigação 2G ainda te causa assombro?  Se prepare, pois, a 3G já está a caminho.

 

 

Referências

ADAMSON, D.T. & CHAPMAN, S. (2013) Characterizing Low K Zones. In: SALE, T., PARKER, B. L., NEWELL, C. J., & DEVLIN, J. F. (2013). Management of Contaminants Stored in Low Permeability Zones-A State of the Science Review. Colorado State Univ Fort Collins Dept Of Civil And Environmental Engineering. pgs 17 a 49

CETESB – COMPANHIA AMBIENTAL DO ESTADO DE SÃO PAULO (2017) Decisão de Diretoria Nº 038/2017/C.  Diário Oficial Estado de São Paulo – Caderno Executivo I (Poder Executivo, Seção I), edição n° 127(28) do dia 10/02/2017 Páginas : 47 a 52

SUTHERSAN, S., QUINNAN, J., & WELTY, N. (2015). The new ROI: Return on investigations by utilizing smart characterization methods. Groundwater Monitoring & Remediation, 35(3), 25-33.

 

Escrito por Sérgio Matos

Sérgio Matos é geólogo e atua há 18 anos no gerenciamento de áreas contaminadas. É também fundador da PanGEO.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Análise composicional - modelos lineares composicionais

Análise Composicional: Modelos Lineares Composicionais

Fundamentos da Geoestatística em Cinco Lições, Journel (1989)

Retrospectiva da Geoestatística XX: Fundamentos de Geoestatística em Cinco Lições (Journel, 1989)