Geoestatística e Scripts em R

Declaração de Recursos e Reservas Minerais – Qualidade do Projeto – Parte 4

O quarto e último artigo desta série apresenta a importância da qualidade da informação no processo de declaração de recursos e reservas minerais.

As declarações são feitas pelas empresas que captam recursos em bolsas de valores de todo o mundo (TSX, ASX, NYSE, LSX) ou negociam seus prospectos e projetos minerais, utilizando as referências dos códigos internacionais, sendo os instrumentos mais conhecidos: JORC, NI 43-101, SAMREC, CRIRSCO. O Brasil já possui seu próprio instrumento desde 2015, o Guia CBRR para Declaração de Resultados de Exploração, Recursos e Reservas Minerais.

Os instrumentos apresentam orientações e recomendações de Boas Práticas para a Declaração Pública de Resultados de Exploração, Recursos Minerais e Reservas Minerais e aplicam-se a todos os minerais sólidos, inclusive diamante, outras gemas, minerais industriais, rochas e agregados e carvão.

Quais são as informações apresentadas nos relatórios?

Conforme comentado na parte 3 desta série de artigos,  a Tabela 1 do Guia CBRR para Declaração de Resultados de Exploração, Recursos e Reservas Minerais é uma lista de checagem e diretriz para ser usada como referência por quem estiver preparando relatórios para certificações internacionais. A Tabela é apresentada sob a forma de matriz, listando os critérios de avaliação em três colunas para Resultados de Exploração, Recursos Minerais e Reservas Minerais, conforme o nível de detalhe recomendável em cada estágio e é, que é, no mínimo, 90% compatível com os demais códigos (JORC, NI 43-101, CRIRSCO e outros).

A Figura 1 – apresentada na Monografia 23 da AusIMM de 2001 – ilustra a iteração entre as várias etapas da mineração e as atividades envolvidas, onde pode-se observar quantas informações são geradas.

Fonte: Edwards, A.C. 2001. Mineral resource and ore reserve estimation – The AusIMM guide to good practice.

Figura 1 – Iteração da avaliação técnica, financeira e riscos da mineração

Durante as etapas de aquisição de dados, recomendam-se uma série de práticas que permitam a auditabilidade do projeto, tais como a adoção de procedimentos operacionais, inserção de dados em sistemas de gestão de dados, preferencialmente integrados, para evitar erros, negligência e fraudes. Procedimentos operacionais, por exemplo, permitem que sejam evitados e controlados erros durante o processo de sondagem, descrição de testemunhos, amostragem, preparação de amostras, análises laboratoriais. Nestas etapas são inseridos diversos controles para garantia da qualidade dos dados gerados.

Outra questão muito importante a ser apresentada nos relatórios são os valores de estimativa e incerteza geológica, e, principalmente, as formas de obtenção destes resultados. As estimativas dos modelos de recursos são diretamente dependentes da qualidade das amostras coletadas e do processo utilizado para gerar as estimativas, e as principais fontes de incerteza são relacionados à amostragem insuficiente e à natureza estocástica da variável geológica. Indiretamente, há dependência de como/onde os dados são armazenados e quais parâmetros de controles. A qualidade dos resultados depende da qualidade e da confiabilidade dos dados de entrada e para isto recomenda-se, sempre que possível, a utilização de softwares e sistemas de informação.

A Figura 2 ilustra a abrangência de alguns dos sistemas atualmente utilizados, nas fases da mineração. Além destes sistemas, utilizam-se também softwares para modelagem geológica e geoestatística, como o GEOKRIGE

Figura 2 – Sistemas utilizados no processo de aquisição de dados, reconciliação e declaração

Faço aqui um destaque para a importância da utilização de softwares legalizados, por duas principais razões:

  1. O uso de softwares não licenciados ou ilegais implica em riscos não somente ao prestador de serviço como também ao contratante do serviço, conforme a Lei 9.609, de 19 de fevereiro de 1998, que dispõe sobre a proteção da propriedade intelectual de programa de computador. A indenização por perdas e danos pode chegar a 3.000 vezes o valor do software, maiores detalhes podem ser vistos neste link. A melhor forma de evitar problemas futuros é a contratante de serviços exigir o certificado de origem do programa a ser usado para fins de avaliação de recursos minerais.
  2. A declaração de recursos e reservas minerais atesta, através da apresentação de relatórios padronizados conforme boas práticas internacionais e supervisão e responsabilidade dos trabalhos por profissional qualificado, a valoração e credibilidade do projeto.

Este assunto está sendo desenvolvido como projeto de doutoramento da autora. Caso queira maiores informações, entre em contato.

Leia aqui o primeiro artigo que trata do histórico dos instrumentos para declaração dos recursos e reservas minerais, principais conceitos e o novo código brasileiro da CBRR.

O segundo artigo, sobre as definições dos instrumentos para declaração de recursos e reservas. 

O terceiro artigo, sobre os princípios fundamentais dos códigos internacionais e as características dos profissionais responsáveis pelos relatórios, os Profissionais Qualificados (CP – Competent Person / QP – Qualified Person).

Comments

Uma resposta para “Declaração de Recursos e Reservas Minerais – Qualidade do Projeto – Parte 4”

  1. Avatar de nelson vilanculo
    nelson vilanculo

    Os meus parabens pela forma simplista de tentar levar este vasto campo de conhecimento do sector da industria extractiva ao alcance de todos os interessados na materia.
    Eu gostei bastante.
    Nota: se possivel gostaria de convidar a Dra. Gláucia para dar uma palestra em Mozambique via zoom sobre a IMPORTANCIA DE UM PAIS TER GUIA PROPRIO DE DECLARACAO DE RECURSOS E RESERVAS, tomando o Brazil como exemplo a nivel dos paises da CPLP.

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