O Processo de Avaliação de Recursos e Reservas Minerais
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O Processo de Avaliação de Recursos e Reservas Minerais

Como Fazer Avaliação de Recursos Minerais

O Processo de Avaliação de Recursos e Reservas Minerais

O trabalho de avaliação de recursos e reservas minerais é uma atividade técnica executada por geólogos e engenheiros de minas, os quais são profissionalmente habilitados para esse fim. Todo processo pode ser visualizado na Figura 1.1, que ilustra as atividades envolvidas na avaliação de recursos e reservas minerais.

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Análise de atividades

Essas atividades estão associadas às diferentes entradas, proporcionadas pelos estudos específicos desenvolvidos ao longo de todo o processo.

As entradas são:

  • laboratório;
  • geologia;
  • geoestatística;
  • geotecnia;
  • engenharia de minas (operações de lavra);
  • metalurgia (processamento mineral e industrialização);
  • mercado;
  • ambiente;
  • econômico;
  • e informações de estudos de ordem legal, social e governamental.

Processo de estimativa de reservas minerais

Como se pode verificar, trata-se de um trabalho de uma equipe multidisciplinar que interage nas atividades do processo que culminam na definição de reservas minerais, que podem ser lavradas com lucro.

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Figura 1: Os estágios do processo de avaliação de recursos e reservas minerais (Baldwin et al., 2014, p. 4).

 

Entradas do processo

Os trabalhos de laboratório ocorrem com maior intensidade na atividade inicial, continuando na interpretação geológica e modelagem e nas demais atividades com menor intensidade até a atividade final que visa o controle de teores, que ocorre na lavra propriamente dita.

O papel da geologia e da geoestatística na avaliação de recursos minerais

A geologia tem um papel fundamental em todo o processo, pois ocorre em todo o processo, enquanto a geoestatística começa preliminarmente na avaliação dos dados da exploração mineral e entrando na atividade de interpretação geológica e modelagem.

Mas, ela é também requisitada na avaliação do recurso mineral, classificação e declaração. Tem um papel importante, pois a geoestatística proporciona ferramentas para estudo da continuidade da mineralização, estimativa do recurso mineral com base no modelo da correlação espacial e, sobretudo, pela quantificação da incerteza, que é fundamental em qualquer processo de estimativa baseada em uma amostra (dados da exploração mineral).

Posteriormente, a geoestatística é aplicada no monitoramento de recursos e reservas minerais, controle de teores e reconciliação mineira.

O papel da geotecnica e da engenharia de minas na avaliação de recursos minerais

Os estudos de geotecnia começam efetivamente a partir do modelo geológico que fornece as informações sobre a geometria do depósito mineral e continuam em todas as demais atividades.

A engenharia de minas tem um papel preponderante a partir da estimativa do recurso mineral e, principalmente, na definição do método de mineração, que é um dos fatores modificadores. Esses estudos, a exemplo da geotecnia, continuam em todas as atividades posteriores.

Metalurgia e mercado consumidor

A definição dos processos de metalurgia que incluem o beneficiamento começa a partir da estimativa do recurso mineral, que fornece a informação importante sobre os tipos de minério existentes e as rotas de beneficiamento apropriadas. Durante todo o processo, a metalurgia está presente para eventuais correções ou adequações da metodologia de separação, extração, concentração e adequação do material de interesse.

O mercado consumidor precisa estar muito bem caracterizado para viabilizar o escoamento do produto mineral, onde a localização do depósito mineral e a infraestrutura de transporte são essenciais nos estudos mercadológicos. Também, deve fazer parte deste item a capacidade do mercado de absorver a produção projetada, bem como a estimativa de preço a ser obtido pelo produto do empreendimento.

Estudos ambientais e econômicos

Estudos ambientais são importantes para verificação dos impactos causados pela mineração, as medidas mitigadoras e compensatórias, das áreas ambientalmente favoráveis à mineração e, também, no fechamento da mina, que deve conter o projeto de recuperação da área minerada.

Os estudos econômicos constituem na realidade um dos fatores modificadores que permitem fazer a conversão de recurso em reserva mineral.

As entradas de ordem legal, social e governamental são fundamentais e importantes em todo o processo, pois a simples mudança de uma regra pode inviabilizar totalmente o empreendimento de mineração.

 

Atividades do processo

O estágio de exploração mineral gera as informações que irão constituir a base de dados do recurso mineral. Evidentemente, a coleta de dados envolve uma série de cuidados, pois qualquer erro na coleta e alteração de dados irão se propagar por todos os estágios podendo resultar em quantidades e qualidades enviesadas do recurso mineral. Cabe lembrar ao leitor que em 1997 eclodiu o caso Bre-X, considerado a maior fraude na história recente da mineração. Todos os tipos de dados possíveis, assim como os protocolos adotados visando a segurança dos dados serão descritos posteriormente.

O segundo estágio se refere à interpretação e modelagem geológica do depósito mineral. Como se sabe, a mineralização é condicionada à geologia, expressa tanto pela litologia, como por outras características, tais como alteração intempérica ou hidrotermal. É fundamental entender a geologia do depósito para fazer corretamente a estimativa do recurso mineral, pois caso contrário a avaliação baseada somente nos teores pode resultar em um número obtido por manipulação matemática dos valores amostrados, sem significado prático ou sem representatividade.

Os estágios envolvidos na estimativa do recurso mineral, aplicação dos fatores modificadores e avaliação da reserva mineral podem ser visualizados na Figura 2, que é um modelo clássico usado internacionalmente e adotado no Brasil pela CBRR – Comissão Brasileira de Recursos e Reservas Minerais.

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Figura 2: Conversão de recursos em reservas minerais e classificação conforme o grau de conhecimento geológico e confiança (CBRR, 2016, p. 5).

 

O modelo geológico interpretado pode ser então aplicado na estimativa do recurso mineral propriamente dito, no terceiro estágio do processo. Nesse estágio, procede-se à análise estatística e ao cálculo do recurso mineral, por um procedimento adequado. Os recursos minerais devem ser classificados, em graus de certeza crescentes, conforme o aumento do conhecimento geológico e confiança. Esses parâmetros serão devidamente descritos e discutidos nos artigos seguintes, irão tratar da questão da classificação de recursos minerais.

O que constar no relatório final

Os resultados da classificação de recursos minerais devem constar do relatório final de pesquisa, que deverá contemplar todos os dados obtidos, interpretações e suposições feitas, métodos usados para determinações analíticas e respectivos limites de detecção, resultados de estudos geoestatísticos, os parâmetros usados para a modelagem de teores, os valores de densidade aparente usados e os resultados finais. O relatório final de pesquisa deverá ser legalmente apreciado e aprovado pela Agência Nacional de Mineração.

A conversão de recursos em reservas minerais

No próximo estágio, aplicam-se os fatores modificadores que visam à conversão de recursos em reservas minerais. Tratam-se de importantes considerações, pois a impossibilidade de se atender um ou mais fatores impedirá a transformação em reservas minerais. Dessa forma, os recursos minerais permanecerão in situ, sem possibilidade de aproveitamento econômico.

O cálculo da reserva mineral

No penúltimo estágio, tem-se o cálculo da reserva mineral. Este é feito dentro das restrições e condições impostas pelos fatores modificadores. Observe-se que apenas os recursos minerais classificados como medido e indicado são convertidos em reservas minerais provada e provável, respectivamente. Cabe ressaltar que as setas para a conversão são bidirecionais (Figura 2). Tais setas indicam que, a qualquer momento, a reserva pode voltar para recurso, ou o recurso medido se transformar em reserva provável, ou vice versa.

 

 

Referências bibliográficas

Baldwin, J.T.; Lew, J.H.; Whitham, M.F. 2014. Overview. In: Mineral resource and ore reserve estimation – The AusIMM Guide to good practice, second edition, p. 3-12.

Comissão Brasileira de Recursos e Reservas – CBRR. 2016. Guia CBRR para declaração de resultados de exploração, recursos e reservas minerais. Brasília, CBRR. 54p.

 

 

 

Avaliação e classificação de recursos e reservas minerais
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Escrito por Jorge Kazuo Yamamoto

Prof. Dr. Jorge Kazuo Yamamoto, fundador da Geokrigagem, é geólogo, foi pesquisador do IPT e docente do Instituto de Geociências da USP, onde se aposentou como Professor Titular do Departamento de Geologia Sedimentar e Ambiental. Atualmente, atua como Professor Sênior do Departamento de Engenharia de Minas e de Petróleo – Escola Politécnica – USP. É responsável pela disciplina “Métodos geoestatísticos” na Pós-Graduação do IPT – Investigação do subsolo: Geotecnia e Meio Ambiente. Dedica-se ao ensino de geoestatística, com ênfase no desenvolvimento de algoritmos e pesquisa de novas aplicações, tais como: variância de interpolação, cálculo da variância global de depósitos minerais e correção do efeito de suavização da krigagem. Ultimamente, seu interesse está voltado para o ensino e divulgação da linguagem R.

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